quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Dando Asas à imaginação

Ainda no primeiro semestre do ano corrente li um livro policial cujo título é: 1º a morrer, de James Patterson. No entanto, esse post não é mais uma micro-resenha da Obra – que por sinal é muito boa – e sim uma relação muito inusitada criada pelo meu imaginário com a história, mais especificamente, com a Lindsay Boxer.


Somos sabedores que os personagens dos livros que lemos muitas vezes parecem transcender o mundo fictício. Isso aconteceu comigo de uma forma muito singular. Lindsay Boxer, a estrela da Obra em voga, é uma mulher de personalidade forte, divorciada, policial, linda e destemida que tem a sorte – ou azar – de sempre tentar racionalizar suas relações por mais irracionais que possam ser. Dei vida a ela, passei a imaginá-la por vezes me observando, sedenta por minhas conclusões sobre o caso que investigava. Ia além. Acreditava piamente que seu coração deflorado poderia ser recomposto pelo meu sentimento tão real. Uni dois mundos: o da personagem e o meu.



O mais engraçado é que atribuí uma trilha sonora a nossa pseudo-relação-ficta-amorosa a, mui sugestiva, “Eu não sei dizer te amo”, de FREJAT. Essa é a nossa música. A que me fez e faz lembrar dos momentos não vividos, mas imaginados ao lado da MINHA Lindsay, das nossas aventuras que beiram o real de tão imaginadas que foram. Basta escutá-la para reviver todo esse sentimento que extrapola as páginas do livro.





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Ler, no meu entendimento, é muito mais que juntar palavras e páginas ou acompanhar o enredo. Vai além. É deixar os personagens adquirirem vida no seu imaginário, é misturar os dois mundos e se apaixonar. Quem faz algo por paixão, faz bem-feito.





Sem dúvidas: Ela é a minha personagem preferida!

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Memória de minhas putas tristes


Recentemente terminei de ler mais um livro de Gabriel García Márquez: Memórias de minhas putas tristes. Que maestria! Ainda consigo me surpreender com o Colombiano.

A velhice tão temida por alguns, mas desejada por todos, é abordada de uma maneira singular. O amor que foi uma companhia não grata durante toda a vida , passa a ser descoberto e indispensável na senilidade. Será que a proximidade do fim o fez perceber a vivacidade de tal sentimento?

Nada estranho que o seu verdadeiro amor venha a ser encontrado dentro de um Bordel, afinal passou anos a fio por frequentá-los. E o contraponto entre a idade de Delgadina e a sua, revela que a vida a se esvair no ancião, brota na ninfa. Viver para amar ou amar para viver, no fim sempre procuramos algo que nos faça continuar.


Uma breve citação (p. 75) para demonstrar o fino trato do autor com as palavras.


"Virei outro. Tratei de reler os clássicos que me mandaram ler na adolescência, e não aguentei. Mergulhei nas letras românticas que tanto repudiei quando minha mãe quis me forçar a ler e gostar, e através delas tomei consciência de que a força invencível que impulsionou o mundo não foram os amores felizes e sim os contrariados..."

terça-feira, 7 de julho de 2009

Devaneios


Estudar, trabalhar, estagiar, escrever etc. Tenho andado tão bitolado que esqueço olhar pela janela e observar o mundo, nem que seja por poucos segundos...
O corre-corre quase sempre nos tira o melhor da vida. 24 horas é pouco na sociedade de hoje. Há uma super-valoração de horários e de afazeres que acabamos por esquecer o prazer de contemplar as belezas que fazem parte do nosso dia-a-dia. Um dia de praia. Um olhar para as estrelas. O balanço das folhas de uma árvore. Ou um trivial ‘olhar pela janela’.
A modernidade trouxe benefícios, não podemos negar, mas há malefícios que, se não podem ser extirpados das nossas vidas, pelo menos podemos amenizá-los. Não prego sombra-e-água-fresca, aliás, não prego nada, só penso que estar vivo é muito mais que trabalhar, estudar ou fazer qualquer outra coisa demasiadamente.
Não precisamos ir longe para ter um exemplo. Os nossos queridos índios vivem numa sociedade que privilegia o lazer, ou seja, trabalham para poder se divertir, dançar, rir, chorar ou simplesmente desfrutar do ócio em uma rede. Estão errados? São preguiçosos? Óbvio que não, pensar desse modo é ser etnocêntrico, ao invés disso, por que não copiá-los?

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Amar para Humanizar

Antes de tudo, devemos usar a palavra Humanismo no plural, pois na verdade existem humanismos. Tem-se o Clássico, o Cristão, o Moderno, Renascentista, Contemporâneo etc. Sobretudo, caracteriza-se como toda e qualquer doutrina que atribui ao homem algo peculiar e específico em relação aos outros seres do Multiverso.

Assim sendo, segundo Nogare, há três sentidos básicos que devem ser atribuídos a palavra Humanismo. O primeiro deles é o histórico-literário que consiste no estudo dos grandes autores da cultura clássica, tanto grega quanto romana; o segundo sentido seria o especulativo-filosófico que, numa visão macro, caracteriza-se por todas as teorias que tentam explicar a origem, natureza, destino humano; por fim, temos o terceiro sentido, ético-sociológico, sendo algo mais prático, fugindo das teorias meramente utópicas, pois segundo Marx, os filósofos não devem se contentar em apenas contemplar o mundo. Não obstante, um humanismo “puramente teórico pode se tornar o ópio dos intelectuais e a traição do homem, sobretudo dos homens que ainda não conseguiram desfrutar da condição humana”

Confesso que isso tudo soa muito abstrato, pois o homem na sua concretude vive em família, em sociedade, ou seja, em convivência com outros, devendo dessa maneira, ser tratado como fim. Não desrespeitar ou lesar o Outro necessariamente não caracteriza o absoluto e nada mais é do que uma forma puramente negativa de reconhecer o próximo. O valor real do ser humano não pode ser tolhido, contudo deve ser afirmado pelas relações intersubjetivas nas interpelações face-a-face. Este caráter positivo do humanismo só pode ser realizado na medida em que amamos o nosso semelhante, pois “o homem, pelas suas faculdades espirituais, é essencialmente abertura, comunicação, dom em si. É, portanto, só amando que ele se realiza como homem e é homem na medida em que ama”

Se querer o Outro como fim é amá-lo, quer-se também a sua máxima realização, ou seja, um efetivação de todas as suas potencialidades, pretensões e, sobretudo, de sua liberdade. Desde tempos imemoriais o homem tem consciência de seu alvedrio e tenta reafirmá-lo de todo jeito, hoje mais do que nunca. Assim sendo, os Humanimos possuem o intuito de valorização do homem em detrimento a todos os bens mundanos, tais como: trabalho, dinheiro, credo, raça etc. Tal valoração do humano está basicamente no amor pelo outro e no reconhecimento de sua liberdade.

Por fim, tomei a liberdade de modificar uma citação de Santo Agostinho para que possa refletir fidedignamente a intenção desse texto:

nós (re)conhecemos na medida em que amamos

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Referência:
NOGARE, Pedro Dalle. Humanismos e Anti-Humanismos: Introdução à Antropologia filosófica. 13 ed. Petrópolis, Vozes: 1985.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

O começo. Um pequeno conto...

Hoje uma radiante senhora sentou ao meu lado no percurso casa-faculdade. Silêncio prevaleceu nos primeiros minutos até que, subitamente, uma gargalhada rompeu o ar como um trovão!


Olhei, procurei e achei. Duas cadeiras à frente, uma criança com olhos de vida e portadora de uma alegria que parecia ser contagiosa, brincava com uma borboleta. Tentava agarrá-la e, de repente, o inseto voava. Continuou nessa árdua e incansável tarefa por um bom tempo.


Entendi o motivo do riso da senhora, que olhava a criança e não conseguia conter a alegria. A risada era inevitável. Como em um circo, todos desataram a rir no ônibus e minha doce companheira de assento me fitou, notando que minha polidez prevaleceu. Permaneci indiferente às gargalhadas.


A alegria nunca gostou muito de mim. Mas, por um momento, aquela senhora, aquela criança me fizeram refletir. Separadas por gerações, por décadas, mas por um instante a distancia entre elas não era superior a duas cadeiras. Unidas pela felicidade do acaso, pela força de um riso ou pela delícia de viver. Tenho certeza que essa lição jamais esquecerei.